Desde 2020, a Terra vem completando sua rotação em torno do próprio eixo em tempo cada vez mais curto — e os próximos meses podem registrar o dia mais breve já documentado por relógios atômicos, indica um estudo do astrofísico Graham Jones e dados do IERS e Timeanddate.com. As datas apontadas são 9 e 22 de julho e 5 de agosto de 2025, quando o planeta pode girar com até 1,5 milissegundos a menos que o habitual — superando o recorde anterior de 1,66 ms em 5 de julho de 2024.
Um dia terrestre padrão tem 86 400 segundos, ou 24 horas, e essas variações, embora minúsculas, são mensuráveis graças à tecnologia de relógios atômicos. A aceleração atual contraria a tendência histórica de desaceleração provocada pelas marés geradas pela Lua, que diminuem gradualmente a velocidade de rotação da Terra — fenômeno que, ao longo de bilhões de anos, elevaria a duração do dia para dezenas de horas.
Os encontros previsíveis entre Terra e Lua em posições extremas da órbita, como no afélio lunar — ponto mais distante do equador — podem contribuir para essa aceleração sazonal. No entanto, a força motriz por trás dessa mudança persistente permanece sem explicação clara. Hipóteses incluem redistribuição de massa no interior da Terra, mudanças nas correntes oceânicas e atmosféricas, e o chamado “Chandler wobble” — uma pequena oscilação no eixo terrestre.
Especialistas do IERS e do Observatório Naval dos EUA avaliam que, embora terremotos de grande magnitude possam gerar acelerações pontuais — como ocorreu após o terremoto do Japão em 2011, que encurtou o dia em 1,8 microssegundos e deslocou o eixo em centímetros —, estes não bastam para explicar o padrão observado desde 2020.
A aceleração constante dá origem a um paradoxo do tempo: até 2016, os segundos bissextos eram adicionados para compensar o ritmo mais lento do planeta, mas desde então não houve mais inserções. Agora, surge a possibilidade de ser necessário criar segundos negativos — um recuo no tempo oficial — caso a Terra continue reduzindo consistentemente o comprimento dos dias.
Para sistemas críticos que dependem de precisão temporal absoluta — como GPS, redes financeiras e telecomunicações —, esses milissegundos contam, e as variações devem ser monitoradas com rigor. Conforme declarações de Judah Levine, do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia, “ninguém esperava esse tipo de aceleração; a suposição era a de que a Terra obedeceria sua desaceleração natural”, gerando surpresas na comunidade científica.
Apesar de pequena, essa mudança pode ter implicações profundas: além de impactar a sincronização tecnológica global, ela revela que processos internos da Terra — como o rearranjo de massa no manto e crosta — ainda não são totalmente compreendidos. Dessa forma, o planeta pode estar operando sob uma “troca de marcha” interna, acelerando de maneira inesperada.
Nos próximos meses, a atenção estará voltada para as datas previstas, enquanto o IERS prossegue com o monitoramento contínuo. Se confirmada uma redução recorde, passaremos a observar, pela primeira vez, a Terra inaugurando dias mais curtos do que qualquer outro registrado na história moderna.