A sonda Solar Orbiter, missão conjunta da Agência Espacial Europeia (ESA) e da NASA, capturou, pela primeira vez, imagens diretas do polo sul do Sol, um feito histórico registrado entre os dias 16 e 17 de março de 2025, a cerca de 65 milhões de quilômetros de distância. Essas imagens foram obtidas após uma manobra gravitacional em fevereiro, quando a sonda usou Vênus para inclinar sua órbita em 17° abaixo do equador solar — um ângulo inédito que permitiu olhar para regiões até então invisíveis da nossa estrela.
As primeiras fotos do polo sul foram registradas por três instrumentos da Solar Orbiter: o Polarimetric and Helioseismic Imager (PHI), que mapeia o campo magnético solar e obtém imagens em luz visível; o Extreme Ultraviolet Imager (EUI), que mostra a corona em altíssima temperatura na faixa ultravioleta; e o Spectral Imaging of the Coronal Environment (SPICE), que capta emissões de gases carregados em diferentes camadas da atmosfera solar.
Os dados revelaram que o campo magnético no polo sul está “uma bagunça” — diversas polaridades espalhadas, com regiões de campo norte e campo sul misturadas, confirmando previsões teóricas para o período de máximo solar, fase quando o Sol passa pela inversão magnética natural de seu ciclo de 11 anos. “Não sabíamos exatamente o que esperar dessas primeiras observações – os polos do Sol são, literalmente, terra incognita”, afirmou o professor Sami Solanki, líder da equipe PHI no Instituto Max Planck, da Alemanha.
A diretora científica da ESA, Carole Mundell, destacou: “Hoje revelamos a primeira visão humana do polo do Sol. É imperativo entender como ele funciona e aprender a prever seu comportamento, que pode impactar sistemas espaciais e terrestres”. A propósito do instrumento EUI, o professor Hamish Reid, da University College London, reforçou: “Essas primeiras imagens dos polos solares são apenas o começo. Nos próximos anos haverá ciência de descoberta. Não sabemos o que encontraremos .
Essas novas observações são fundamentais para compreender como o campo magnético solar se reorganiza durante o máximo, influenciando oscilação de manchas solares, erupções e o vento solar — fenômenos que interferem diretamente no clima espacial e podem afetar satélites, comunicações e redes elétricas na Terra.
A Solar Orbiter não para: após novos sobrevoos por Vênus, ela chegará a inclinações de até 33° até 2029, o que permitirá futuras imagens ainda mais reveladoras, incluindo as do polo norte solar, cujos dados já começam a ser enviados. Com isso, encerra-se uma era de visões limitadas ao plano eclíptico, abrindo caminho para mapas tridimensionais completos da nossa estrela.
Em suma, a Solar Orbiter dá início a uma nova era na heliosismologia e na astrofísica solar, oferecendo pela primeira vez imagens reais dos polos solares, comprovando modelos magnéticos, revelando polaridades caóticas e preparando o terreno para um monitoramento detalhado da evolução magnética do Sol, com impacto direto na previsão de fenômenos que reverberam aqui na Terra.