Pesquisadores das universidades de Estocolmo (Suécia) e Stanford (EUA) propõem uma explicação ousada para o mistério das chamadas “estrelas imortais”: esse grupo extremamente raro de estrelas que parece desafiar o envelhecimento ao brilhar como jovens há muito no centro da Via Láctea. Segundo o estudo, publicado em 18 de junho na revista Physical Review D, essas estrelas se alimentariam continuamente de matéria escura — a substância invisível que compõe cerca de 85% da massa do universo — e poderiam viver indefinidamente se abastecendo desse combustível cósmico.
O fenômeno foi originalmente detectado entre as chamadas estrelas do aglomerado S, próximas ao buraco negro supermassivo Sagittarius A*, nas regiões mais internas da galáxia. Elas emitem luz e apresentam espectros característicos de estrelas mais jovens, mesmo em um ambiente em que a formação estelar seria improvável. Essa discrepância ficou conhecida como o “paradoxo da juventude”, reforçando um enigma em torno da longevidade estelar nesse ambiente extremo.
Para investigar as causas, a equipe liderada por Isabelle John usou simulações avançadas de evolução estelar, modelando estrelas que capturam partículas de matéria escura (como WIMPs) pela gravidade. Essas partículas seriam retidas no núcleo da estrela, colidindo e se aniquilando entre si, liberando energia sob a forma de fótons e elétrons, semelhante à fusão nuclear — mas sem consumir hidrogênio. Esse mecanismo cria uma pressão de sustentação que mantém a estrela estável, potencialmente por até 100 vezes seu tempo de vida convencional.
O estudo apresenta um novo diagrama de Hertzsprung-Russell, chamado de “dark main sequence”, que inclui essas estrelas diferenciadas por terem luminosidades similares às estrelas normais, mas temperaturas mais baixas, posicionando-as em uma faixa até então não identificada.
Isabelle John explica: “A região central da galáxia possui densidade de matéria escura alta o suficiente para que esse processo funcione. Elas podem usar a aniquilação de matéria escura como combustível, em vez do hidrogênio. Isso explicaria por que essas estrelas parecem eternamente jovens, mesmo com idade avançada”.
O estudo não sugeriria que o Sol possa adotar esse processo — ele está numa parte da galáxia com densidade de matéria escura baixa demais. Essas estrelas especuladas são um fenômeno restrito ao centro galáctico, onde a densidade pode ser bilhões de vezes maior que na região onde estamos.
Caso corroboradas por observações, essas estrelas poderiam lançar luz sobre a distribuição da matéria escura em nossa galáxia, já que sua existência dependeria explicitamente da presença e densidade dessa substância no entorno estelar. Além disso, confirmariam que a matéria escura pode interagir — ainda que muito fracamente — com a matéria comum, algo ainda não observado diretamente.
Para testar a hipótese, os autores sugerem o uso de telescópios de nova geração com maior sensibilidade e resolução, capazes de enxergar a região interna da Via Láctea com precisão nunca antes possível — e detectar a população dessas estrelas na “dark main sequence” proposta.
Este estudo representa uma reviravolta emocionante no entendimento da evolução estelar e da própria natureza da matéria escura. Se confirmado, será a primeira evidência direta de um processo exótico capaz de tornar estrelas praticamente imortais — reacendendo debates sobre energia escura, halos galácticos e os limites da física conhecida.