Cientistas da Universidade de Pequim apresentaram uma proposta surpreendente sobre a superfície de pulsares, sugerindo que essas estrelas de nêutrons podem possuir pequenas protuberâncias — um tipo de relevo — que afetam significativamente o comportamento de suas emissões de rádio. A hipótese, baseada em dados observacionais obtidos pelo radiotelescópio FAST e publicada em artigo no arXiv, abre uma nova perspectiva sobre a física e a dinâmica dessas estrelas ultra-densas.
As observações enfocaram o pulsar PSR B0950+08, utilizando 110 minutos de dados de polarização, uma técnica que permite analisar em detalhe a direção e intensidade das ondas de rádio emitidas. Um padrão de “faíscas” de descarga elétrica — chamado de spark-sparking — foi detectado, apresentando distribuição não‑simétrica em relação ao meridiano das regiões polares magnéticas. Este comportamento fugia das expectativas de simetria baseadas em modelos convencionais de pulsares.
A equipe — com destaque para Zhengli Wang, Jiguang Lu, Jingchen Jiang e outros — interpretou essa assimetria como resultado da presença de pequenas elevações na crosta do pulsar, apelidadas de “espinhas” ou “zits”. Nessas elevações, a quebra do campo magnético é favorecida, desencadeando descargas preferenciais ao longo dessas regiões. Segundo os autores, tais estruturas criariam pontos de sparking com maior frequência, explicando as irregularidades nos pulsos observados.
O relevo proposto por Wang e colaboradores desafia modelos tradicionais que consideram a superfície dos pulsares absolutamente lisas, com campos magnéticos e emissões simétricas. A ideia de relevo topográfico intriga porque implica existência de tensões e rigidez estrutural suficiente para permitir irregularidades na crosta, mesmo sob condições extremas de pressão e gravidade.
Se confirmada, essa hipótese terá impacto direto no entendimento da magnetosfera pulsar e na física de altas energias. Primeiro, modificaria a forma como se estudam os feixes de partículas que originam os pulsos — a posição e intensidade das “faíscas” estariam diretamente ligadas à topografia e não apenas ao campo magnético. Isso pode ajudar a explicar fenômenos persistentes, como nulling e drifting nos sinais — interrupções temporárias na emissão e variações de fase dos pulsos.
Essas tensões superficiais também seriam relevantes para compreender comportamentos extremos, como rotação rápida, fenômenos de glitch (saltos repentinos na rotação) e emissão de ondas gravitacionais — onde irregularidades físicas poderiam atuar como fontes de radiação contínua. A modelagem de pulsares como sistemas com relevo desafia simulações anteriores que tratavam essas estrelas como esferas perfeitas.
A comunidade científica, no entanto, ainda está cética. Essa hipótese emergente depende de confirmação por meio de observações adicionais, preferencialmente em outros pulsares e usando diferentes técnicas — como estudos de timing de alta precisão, mapeamentos por radio interferometria e simulações de física de cristal nucleônico. A topografia detectável sugere um campo férreo de pesquisa, pois envolveria entendimento profundo da composição da crosta nuclear e de transformações de fase sob pressões inimagináveis.
O estudo também reforça o papel de telescópios de alta sensibilidade como o FAST, que já contribuiu com mais de mil pulsares descobertos e detalhes refinados de emissões complexas. Essa proposta inovadora pode inspirar novos projetos de observação, com foco em polarização, microemissões e conectividade entre campos magnéticos e relevo estelar.
A proposta de relevo em pulsares da Universidade de Pequim representa mais que uma curiosidade: é uma tentativa de reescrever a física dessas estrelas densas, apontando que sua superfície pode ser mais “acidentada” do que imaginado. Quer isso se confirme ou não, a temática certamente estimulará experimentos e debates nos próximos anos — e fará da topografia estelar um campo de estudo pulsante na astronomia moderna.