Pesquisadores brasileiros, liderados pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, destacaram recentemente na série “Mirando as Estrelas”, do projeto GMT Brasil, uma série de inovações nacionais integradas ao Telescópio Gigante de Magalhães (GMT), atualmente em fase avançada de construção no deserto do Atacama, Chile. O episódio exibiu instrumentos de ponta, como espectrógrafos GMACS e G-CLEF, câmeras de comissionamento e sistemas robóticos de posicionamento de fibras, todos com contribuição técnica brasileira, sublinhando a relevância do país no projeto.
O GMT será composto por sete espelhos primários, cada um com 8,4 metros de diâmetro, totalizando uma superfície de captação de luz de 368 m², capaz de alcançar resolução até dez vezes superior à do Hubble e sensibilidade 200 vezes maior que os melhores telescópios atuais. Em 2023 teve início a fabricação do sétimo espelho no Laboratório de Espelhos do Arizona, etapa essencial que demanda quatro anos entre fusão, polimento e testes ópticos avançados.
No Chile, também estão em estágio final os suportes protetores dos espelhos e o projeto arquitetônico da cúpula, avaliado por comitê internacional e pronto para a construção em aço, com estrutura de 39 metros de altura. A torre de montagem conta com equipes internacionais — EUA, Europa, Austrália, Coreia do Sul e Brasil — reforçando o caráter global do consórcio liderado por GMTO Corporation.
A representatividade brasileira no GMT foi possível graças a um investimento de US$ 50 milhões da FAPESP, garantindo 4% do tempo de uso anual aos pesquisadores do Estado de São Paulo. Cerca de sete dezenas de profissionais integram o GMT Brazil Office, coordenado pelo IAG‑USP, envolvendo engenheiros, físicos, astrônomos, técnicos e bolsistas.
Entre as contribuições práticas, destaca-se o desenvolvimento do espectrógrafo GMACS – liderado por Daniel Faes e Aline Souza – e do módulo óptico STELES/SIFS para o telescópio SOAR, no Chile, que aprimora imageamento de campo integral. “A equipe brasileira fez um trabalho impressionante”, afirmou Cynthia Froning, gerente do projeto GMACS na Texas A&M, durante a revisão do design conceitual, realizada nos Estados Unidos.
Inédita também é a produção nacional de um módulo de óptica adaptativa, o SAMplus, testado com sucesso no SOAR entre março e setembro de 2024 — o primeiro sistema completo projetado e montado no Brasil para correção atmosférica. Esse avanço abre caminho para participação brasileira no desenvolvimento de sistemas semelhantes para o GMT.
Além de fortalecer a engenharia nacional, essas ações elevaram a produção científica e tecnológica em áreas como mecânica, sistemas, eletrônica, automação e softwares de controle. A repercussão também chegou à educação e divulgação científica: o projeto lançou o programa “Universo Expansivo”, voltado à inclusão de pessoas com deficiência visual, com kits táteis e material multissensorial sobre o telescópio e astronomia, promovendo acessibilidade na América Latina.
Com construção estimada para conclusão na década de 2030, o GMT se posiciona como o maior telescópio óptico-infravermelho do mundo e promete respostas sobre formação de galáxias, buracos negros e a busca por vida extraterrestre. O protagonismo brasileiro em sua instrumentação representa um avanço estratégico: o país adentra com força na vanguarda da astronomia planetária e da cooperação internacional, consolidando centros como o IAG-USP como referência. Scientists in São Paulo hoje estão não apenas observando estrelas, mas construindo as lentes que olharão para o Universo.