A NASA e o Departamento de Energia dos EUA lideram o desenvolvimento do radiotelescópio LuSEE‑Night, uma iniciativa pioneira para instalar um observatório no lado oculto da Lua — área livre de interferências de rádio da Terra e sem ionosfera — com o objetivo de captar o “Sinal da Idade das Trevas” do universo, gerado entre cerca de 380.000 e 400 milhões de anos após o Big Bang.
O LuSEE‑Night, planejado para pousar em 2026 dentro do programa Commercial Lunar Payload Services, envolve um módulo com quatro antenas construídas para resistir às extremas variações de temperatura lunar, entre –173 °C e até 137 °C. O aparelho pesa cerca de 76 kg, bem abaixo do limite de 85 kg permitido pelo programa, e incluirá sistemas para gestão térmica por tubos de calor e radiadores espaciais.
Seu principal objetivo é captar ondas de rádio entre 0,1 e 50 MHz — correspondentes ao hidrogênio neutro na “Dark Ages” —, sinal oculto para instrumentos na Terra devido à nossa ionosfera e poluição eletromagnética. No lado oposto da Lua, esse ambiente de silêncio total abre uma janela única para investigar a era cósmica anterior à formação das primeiras estrelas e galáxias.
O projeto faz parte de uma série de iniciativas mais ambiciosas, como o Lunar Crater Radio Telescope (LCRT) — proposta de instalar uma antena tipo Arecibo dentro de uma cratera lunar com cerca de 1 km de diâmetro. Construída com malha de fios metálicos e montagem robótica, esse telescópio gigantesco permitiria observações de 100 kHz a 40 MHz — com sensibilidade capaz de registrar o sinal global de 21 cm proveniente do universo primordial.
Outro conceito, o FARSIDE, propõe a instalação de um conjunto de dipolos estimado em 128 pares de antenas cobertos por uma área de 10 km, implantado por um rover DuAxel e operando num rango até 40 MHz, também voltado à detecção das primeiras emissões de hidrogênio que surgiram após o Big Bang.
Cosmólogos consideram que entender esses sinais permitirá mapear a distribuição do hidrogênio neutro ao longo do tempo, decifrar os processos físicos da era sem estrelas e testar teorias sobre matéria escura, energia escura e inflação primordial. Tudo garantido pelo ambiente lunar silencioso e protegido do lado oculto da Lua.
Paul O’Connor, cientista do projeto LuSEE‑Night, definiu a ambição do experimento: “Estamos em uma nova era da ciência espacial… captar sinais da Idade das Trevas será um salto gigantesco na compreensão da evolução cósmica”. A diretora as Ciências do Departamento de Energia, Asmeret Asefaw Berhe, reiterou: “Esse projeto colocará condições para explorarmos a cosmologia dessa era nos próximos anos”.
Prevista para operar por ao menos dois anos lunares, a missão LuSEE‑Night será seguida por conceitos mais amplos, como o projeto britânico CosmoCube, que permitirá sondar o universo inicial a partir da órbita lunar, e ainda o projeto FarView, ambicioso plano privado para construir uma enorme rede de até 100 mil antenas autoconstruídas na Lua, com potencial de estudar essa faixa ultrabaixa de rádio em detalhe jamais possível da Terra.
Com isso, a radioastronomia lunar desponta como fronteira científica inédita — um observatório incrivelmente silencioso e poderoso capaz de transformar nossa compreensão da origem do universo, revelando sinais que até hoje permaneceram silenciosos por bilhões de anos.