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Italianos traçam missão inédita para Sedna enquanto janela cósmica está aberta

Pesquisadores do Politécnico de Bari, na Itália, divulgaram recentemente um plano arrojado para aproveitar uma oportunidade rara: alcançar o planeta anão Sedna durante seu periélio, previsto para 2075–2076, com uma janela de apenas 30 anos para lançar uma missão antes que Sedna se afaste novamente por 11 milênios. Sedna, um dos corpos mais distantes e misteriosos do Sistema Solar, chega a cerca de 76 UA do Sol nesse ponto — quase três vezes a distância de Netuno — tornando essa breve proximidade única e essencial para explorar sua superfície e atmosfera, se houver.

A equipe italiana, liderada por Elena Ancona, propõe dois conceitos de espaçonaves para essa empreitada: um sistema de propulsão nuclear avançado, chamado Direct Fusion Drive (DFD), e um design inovador de vela solar que usa o calor para liberar partículas, criando impulso por desorção térmica. O DFD permitiria uma missão em até 10 anos, com 18 meses de aceleração contínua e capacidade de entrar em órbita ao redor de Sedna — possibilitando levantamentos detalhados da superfície e possíveis luas. Já a vela solar — mais leve e sem combustível — poderia completar o percurso em apenas sete anos, mas apenas para um sobrevoo, sem órbita.

A velocidade obtida com a vela solar depende fortemente de um cuidadoso auxílio gravitacional por Júpiter e de um sobrevoo próximo ao Sol para intensificar a desorção térmica dos materiais do painel, acelerando continuamente. Já o DFD apresenta vantagem na capacidade de inserção orbital, mas enfrenta o desafio de desenvolver um reator de fusão estável, compacto e robusto para suportar as condições extremas do espaço profundo — ainda em estágio conceitual.

A proposta italiana destaca que missões convencionais, usando lançadores químicos atuais, demorariam 20 a 30 anos apenas para um sobrevoo, e ainda assim não garantiriam o encontro durante o periélio, o que tornaria a iniciativa inviável dentro do prazo disponível. Já com as tecnologias avançadas, é possível reduzir drasticamente esse tempo, tornando possível a chegada antes de Sedna voltar ao longo percurso de 11 mil anos.

Sedna, descoberta em 2003, orbita o Sol com ciclóide excêntrico que leva cerca de 11.400 anos para se completar. Em seu ponto mais próximo, ainda se encontra a mais de 11 bilhões de km de nós, uma distância que exige trajetórias precisas e tecnologia de ponta.

Ambos os conceitos demandam desafios extremos: o DFD requer reatores de fusão com controle e geração de potência nunca antes atingidos; a vela solar precisa de materiais inovadores capazes de suportar longos períodos de exposição térmica e estrutura ultraleve que também transporte instrumentos científicos. A combinação com assistências gravitacionais de Júpiter, e possivelmente de Vênus, Terra, Saturno ou Netuno, será essencial para otimizar velocidade, combustível e trajetória.

Além da exploração inovadora, alcançar Sedna abriria uma janela científica sem precedentes: o estudo direto de um objeto da nuvem interna de Oort, fornecendo dados sobre sua geologia, composição superficial, presença de gelo, moléculas orgânicas e história do Sistema Solar primitivo. Seria também a missão mais distante já realizada, superando os feitos da sonda New Horizons e de qualquer objeto observado diretamente.

Os autores italianos concluíram que só há uma oportunidade para realizar essa missão, e ela está destinada aos próximos 30 anos. Após a passagem no periélio de 2076, Sedna voltará a recuar para as regiões mais profundas do espaço por milênios, encerrando qualquer chance de estudo direto.

O estudo já está em pré-publicação no arXiv e acende um sinal para a comunidade internacional: o tempo é curto e a tecnologia está prestes a tornar possível um salto extraordinário na exploração espacial. A corrida pela missão a Sedna começa agora — antes que a janela milenar se feche para sempre.

Gabriel Rodrigues

Entusiasta de Astronomia e Astrofísica, criador e escritor do blog

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