Astrônomos japoneses anunciaram uma descoberta intrigante: a possível detecção do lendário Planeta Nove — hipotético gigante além da órbita de Netuno — utilizando dados históricos do telescópio infravermelho AKARI, lançado pela JAXA e ativo entre 2006 e 2011. A equipe, liderada por Terry Long Phan, do National Tsing Hua University (Taiwan), analisou dados também do satélite IRAS (de 1983), buscando assinaturas térmicas que pudessem corresponder a um corpo massivo nas regiões distantes do Sistema Solar.
A motivação para procurar em infravermelho é simples: um objeto frio, a centenas de unidades astronômicas, não reflete luz solar suficiente para ser visto em telescópios ópticos, mas emite radiação térmica detectável nessa faixa. Combinando os dois catálogos, os pesquisadores focaram em uma região de céu sugerida por simulações dinâmicas do cinturão de Kuiper (ascensão reta entre 30° e 50°, declinação entre –20° e +20°), onde o planeta seria mais provável.
A estratégia envolveu filtrar fontes que estivessem estacionárias num dia, mas mostrassem deslocamento de alguns minutos de arco ao longo de seis meses ou mais — consistentes com objetos distantes a cerca de 500–800 UA. De aproximadamente 2 milhões de fontes, restaram 13 pares possíveis entre IRAS e AKARI. Após inspeção visual, apenas um par foi identificado como um forte candidato, com deslocamento e brilho térmico compatíveis com o previsto para um planeta de 7 a 17 massas terrestres.
Tomo Goto, coautor do estudo, ressaltou à Science: “As duas detecções por IRAS e AKARI sozinhas não bastam para determinar a órbita; precisamos de observações de acompanhamento com telescópios como o Dark Energy Camera”. A equipe sugere usar o telescópio Blanco, no Chile, cuja câmera cobre três graus quadrados por exposição, ideal para localizar o candidato nas regiões esperadas.
Especialistas externos se mostram cautelosamente otimistas. Gary Bernstein, da Universidade da Pensilvânia, comentou: “É meio surpreendente pensar que algo tão grande quanto Netuno poderia estar escondido ali fora sem ser visto”. Já Samantha Lawler, da Universidade de Regina, lembrou que explicações mais simples, como ruído de fundo, ainda precisam ser descartadas.
Se confirmado, o achado seria histórico. A existência de um nono planeta ajudaria a explicar o agrupamento orbital observado nos objetos extremos do cinturão de Kuiper (ETNOs), cujas trajetórias sugerem perturbação gravitacional por um corpo massivo a cerca de 400–800 UA. Essa distância muito além de Netuno corresponde a um período orbital de dezenas de milhares de anos, mas seu brilho infravermelho ainda seria mensurável ― a reduz uma ordem menor do que a luz visível.
A pesquisa foi aceita para publicação na Publications of the Astronomical Society of Australia e representa um método original: explorar dados antigos em infravermelho com base em simulações que preveem onde e como o planeta se deslocaria entre décadas. Esse tipo de abordagem abre caminho para revisitar outros arquivos astronômicos, combinando história e tecnologia moderna.
Ainda que haja muitas etapas pela frente — como confirmar a órbita, descartar falsos positivos e identificar o objeto novamente — a equipe japonesa deu um passo ousado na busca pelo Planeta Nove. Espera-se que, nos próximos anos, observatórios avançados como Vera C. Rubin e Nancy Grace Roman contribuam para confirmar ou refutar a existência desse gigante escondido nos confins do Sistema Solar.
Essa conexão entre dados antigos e métodos atuais exemplifica como a astronomia continua inovando: às vezes, a chave para novas descobertas está escondida em registros do passado — é só saber onde procurar.