A colaboração científica COSMOS‑Web, utilizando o Telescópio Espacial James Webb (JWST), anunciou o maior mapa contínuo do universo profundo já produzido, com quase 800 000 galáxias detectadas, abrangendo cerca de 98 % da história cósmica. O mapeamento cobre 0,54 graus quadrados com a câmera infravermelha NIRCam e 0,2 graus quadrados com o instrumento MIRI, resultado de 255 horas de observação pelo JWST. Para efeito de comparação, isso equivale a observar uma área do céu três vezes maior que o diâmetro da Lua cheia e é comparável a um mural de 4 × 4 m à mesma profundidade do Hubble Ultra Deep Field.
A física Caitlin Casey (UC Santa Barbara), co‑líder do projeto, destaca que “nosso objetivo era construir esse campo profundo em uma escala física muito maior do que qualquer coisa feita antes; se você tivesse um pôster do Hubble Ultra Deep Field em tamanho normal, nossa imagem seria um mural de quase 4 m de largura”. A precisão do mapeamento só foi possível graças aos filtros NIRCam (F115W, F150W, F277W, F444W) e ao MIRI (F770W), assegurando imagens infravermelhas profundas com resolução sem precedentes.
A quantidade de galáxias captadas foi uma surpresa: cerca de dez vezes mais do que os modelos previam para os primeiros 400 a 500 milhões de anos após o Big Bang. “Desde que o telescópio ligou, temos nos perguntado: ‘esses dados do JWST estão quebrando o modelo cosmológico? Porque o universo estava produzindo luz demais muito cedo…’”. Além de galáxias, o mapeamento revelou buracos negros supermassivos, invisíveis com o Hubble, confirmando que o universo primitivo era muito mais ativo e complexo.
O catálogo COSMOS2025, já disponibilizado, traz fotografias, redshifts fotométricos, medidas estruturais e parâmetros físicos para cada objeto – aproximadamente 700 000 detecções – com precisão de redshift fotométrico de σₘₐd ≈ 0,012 até magnitude 28. A colaboração desenvolveu um visualizador interativo online que permite a qualquer pesquisador ou entusiasta explorar cada galáxia diretamente pelo navegador.
O escopo do COSMOS‑Web vai além da simples catalogação. A coordenação, liderada por Caitlin Casey e Jeyhan Kartaltepe (RIT), pretendia mapear estruturas em larga escala – densas e vazios cósmicos – para entender a evolução das galáxias no contexto ambiental. Dados adicionais, como protoclusters até z≈3,7, já estão sendo analisados, com identificação de quase 1 700 grupos de galáxias.
O impacto científico desse lançamento é enorme. A democratização dos dados permite que até estudantes de graduação pesquisem objetos de ponta, promovendo descobertas colaborativas. “A melhor ciência é feita quando todos pensam de forma diferente sobre o mesmo conjunto de dados” – reforça Casey.
Com esse lançamento, abre-se uma nova era de estudos precisos da formação galáctica, da evolução do universo e dos constituintes cósmicos como a matéria escura. Os dados do COSMOS‑Web prometem alimentar estudos que podem exigir revisões em teorias cosmológicas consolidadas, especialmente sobre a rapidez e modo com que o universo primordial se estruturou.
Essa abertura de dados e a profundidade alcançada pelo JWST apontam para descobertas cada vez mais refinadas nos próximos anos, confirmando que ainda temos muito a aprender sobre os primórdios do cosmos — e que agora temos uma janela inédita para observá-los.